Rafael Moro Martins
Do UOL, em
Curitiba
20/09/2013
O maior empecilho à ampliação da rede de ciclovias em cidades
como São Paulo é a prioridade que os automóveis têm no trânsito
urbano, afirma o arquiteto e urbanista Fabiano Borba Vianna, mestre
pela USP (Universidade de São Paulo) e professor da PUC/PR
(Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
"O espaço público não foi delegado ao automóvel, mas os
carros o foram ocupando quase por completo. Hoje, vemos que pedestres
e ciclistas brigam para retomar um espaço que já foi deles. O
automóvel tem de ceder um pouco de espaço a todos os demais modelos
de transporte", disse.
Para ele, a resistência de administradores públicos em decidir
tomar espaço dos automóveis em favor de outras modalidades de
transporte é uma barreira maior para a criação de ciclovias do que
fatores como topografia ou custo.
"Falta decidir que o espaço das ruas tem de ser
compartilhado entre carros, pedestres e ciclistas. Em outras
palavras, é preciso diminuir o espaço do automóvel. E esse é um
fator que barra a expansão [do uso da bicicleta como meio de
transporte], pois não é decisão simples, principalmente no centro
das grandes cidades", afirmou.
Para Vianna, o modelo a ser seguido é o mesmo que tirou do
automóvel faixas de tráfego que foram destinadas exclusivamente ao
transporte coletivo – não sem resistência e reclamações dos
motoristas. "Os ônibus, quando ganharam pistas exclusivas,
tomaram um espaço do automóvel. Como fazer é a grande questão.
Mas é possível", falou.
"Um exemplo próximo: Buenos Aires, também cidade de
trânsito pesado, tem um plano enorme de ciclofaixas no centro, que
funcionam, e um sistema de empréstimo gratuito de bicicletas",
disse o urbanista.
Ele mesmo é usuário de bicicletas – "uso meu carro, mas
procuro também circular de ônibus e de bicicleta, sempre que
possível". Vianna acredita que a prioridade, na equação, deve
ser do transporte coletivo. "Ele deve ter primazia sobre o
transporte individual. Mas também é preciso haver espaço para os
meios alternativos, como a bicicleta", argumentou.
"É preciso enxergar a bicicleta dentro de um espaço
compartilhado entre transporte público, pedestres, automóveis. Ela
é uma alternativa, dentro de uma série. Mas atualmente há um
movimento e um desejo notório da sociedade por ciclofaixas e
ciclovias", analisou.
Em Curitiba, onde vive, Vianna lamenta a falta de investimentos em
ciclovias. A cidade foi pioneira na adoção das pistas exclusivas, a
maioria de lazer, ligando parques, há cerca de 30 anos, mas viu
avanços tímidos na rede desde então.
"Aqui, falta muito a ser feito, o ciclista enfrenta muitos
problemas", disse. Ele refutou argumentos, comuns na cidade, de
que o clima (frio e chuvoso durante boa parte do ano) desestimule o
uso da bicicleta como meio de transporte na capital paranaense – e,
por extensão, deva também desestimular investimentos em ciclovias.
link: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/09/20/automovel-tem-de-ceder-espaco-para-ciclo-faixas-diz-urbanista.htm
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