9 de maio de 2011

Século XXI - Maio 2011

Mobilidade: Um novo desafio para uma Nova Friburgo



              Por Beto Grillo 


                 Enquanto as maiores cidades do mundo repensam seus modelos de transporte, pois vivemos a era do chamado “Pico do petróleo” e o aquecimento global  é  uma realidade, Nova Friburgo ainda aposta em um modelo motorizado, de queima de combustível fóssil. O poder público permite ainda, inconsequentemente, que mais e mais carros entrem em circulação diariamente. A relação carro/habitante na cidade já é igual a da cidade de São Paulo, o que significa um carro para cada dois habitantes, um verdadeiro absurdo!

Apenas uma empresa detém a concessão da exploração do serviço de transporte público que, aliás, deixa muito a desejar, tanto na qualidade como na relação custo/benefício. Não bastasse isso, o direito de uso de outras formas de transporte quase é impossibilitado pela má organização do trânsito e pela má educação dos motoristas , que em sua maioria, ainda pensam que a prioridade é a maquina e não o ser humano.

Qualquer morador nascido em Nova Friburgo, que tenha mais de cinquenta anos de idade, se lembra que nos áureos tempos em que a cidade ainda não tinha tanto fluxo de veículos motorizados e que a atividade fabril era o sustentáculo da economia local, o meio de transporte mais utilizado para a locomoção era a bicicleta. Os mais antigos se lembram com nostalgia do tempo em que pela manhã e no fim da tarde, início e fim da jornada de trabalho, centenas de pessoas passavam pelas ruas pedalando suas “magrelas”.

Nova Friburgo tem grande área plana

Passaram-se os anos e o processo desordenado de urbanização da cidade, aliado a vontade de ser um grande centro, com todas as suas características modernas, criou o mito que a topografia de Nova Friburgo dificulta o uso da bicicleta e que somente veículos motorizados são eficientes. Possuir um automóvel era e ainda é nos dias de hoje símbolo de status social. Porém, na verdade, o principal eixo viário da cidade que liga o distrito mais povoado ao bairro mais populoso é praticamente plano. Estamos falando claro de Conselheiro Paulino e Olaria. O centro da cidade que fica entre estas duas localidades também é basicamente plano, o que facilita a locomoção dos ciclistas.

As pessoas adotaram o novo modelo, acreditando ser esta a maneira mais moderna e segura de se locomover. No entanto, é justamente nestes trechos onde ocorre o maior número de congestionamentos de tráfego e também de acidentes de trânsito, envolvendo não só motoristas, mas também pedestres de todas as idades.

A contemporaneidade mostra que, Nova Friburgo precisa pensar sistemas de transporte integrados e mistos, unindo formas de transporte coletivo e bicicletas (criação de ciclovias e ciclofaixas, bicicletários, bicicletas para locação, etc.). O que pode ser uma inteligente a criativa maneira de resolver a questão.  Ainda é possível recombinar possibilidades e criar e integrar sistemas onde estacionamentos públicos, no entorno do centro, guardem os veículos enquanto seus donos deslizam sobre a cidade em seus veículos movidos a pernas e no fim do dia deixam lá suas bicicletas e retornam para casa em seus veículos.

Podemos também pensar formas solidárias de transporte, onde vizinhos se unem para organizar listas de carona e roteiros comuns e rodízio entre os veículos e motoristas, gerando dessa forma não só uma acentuada queda dos índices de poluição, mas também uma significativa economia com gastos de manutenção e redução de veículos nas ruas Para projetos dessa natureza existem inclusive financiamentos e verbas oriundas de diversas fontes, uma vez que o desafio da mobilidade é um desafio do mundo contemporâneo.

Todas essas alternativas viáveis são bem mais baratas que a construção de viadutos, pontes, túneis e outras estruturas de concreto e asfalto que além de caras, somente contribuem para o aquecimento climático da cidade e a impermeabilização do solo, e ainda estimulam o aumento do número da frota de veículos motorizados.

O uso da bicicleta não só resolve o problema de tráfego como também ajuda no combate ao sedentarismo e todas as doenças à ele relacionadas.

A questão ambiental

A questão ambiental é outro ponto fundamental a ser levada em consideração. Quantas toneladas de gás carbônico deixariam de ser emitidas por uma simples mudança de hábito no tocante a locomoção? Bicicletas além de não poluentes também são silenciosas e bem pouco espaçosas. Sem contar o gasto de energia, que para a fabricação de uma bicicleta é bem menor que para produzir um carro.

Em muitas partes do globo pessoas se reúnem em torno da bicicleta. Seja com intuito esportivo, ambiental ou social. Clubes de ciclistas, grupos de amigos que se juntam pra passear, ativistas da mobilidade, e até mesmo oficinas coletivas e comunitárias, onde bicicletas são recicladas e distribuídas entre os membros, criando assim uma relação não materialista nem fetichista sobre o objeto, apenas conferindo valor de uso ao mesmo. Bicicletas promovem uma maior socialização  e promovem a cordialidade a gentileza, afinal o contato entre o condutor, as demais pessoas e o meio por onde transita é muito mais estreito.

Engana-se quem pensa que para andar de bicicleta é preciso ter muitos equipamentos e roupas esportivas, o uso do capacete claro é sempre recomendado, mas seu estilo pessoal pode e deve ser implementado ao seu modelo de bicicleta e a suas vestimentas. Em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, já é comum ver homens e Mulheres de negócios locomovendo-se em suas bikes, mesmo estando vestidos de maneira extremamente elegante para seus compromissos, o que criou uma tendência chamada “cicle-chick”.

A cidade precisa se reiventar e ousar. A educação das novas gerações e a mudança de hábitos no tocante a mobilidade humana dentro da “urbes” Friburguense é o caminho para a solução de um problema que começa a se tornar crônico. Não se trata de ir contra o carro, mas sim à favor de outras formas de transporte e da garantia do direito de ir e vir do cidadão.

Portanto você motorista que reclama do Trânsito, quando passar por um ciclista, ao invés de oprimir e desrespeitar, seja gentil, pois ele significa um carro a menos nas ruas, ar mais limpo e tráfego mais tranquilo o que lhe dá maior fluidez e agilidade.Você que reclama do estresse do trânsito, experimente deixar o carro em casa e vá de bike. Redescubra o prazer de estar vivo e sentir o vento na face. Não tenha medo, experimente de início trajetos curtos e vá aos poucos ganhando segurança para aventuras maiores.Pare, pense reflita!!! 

Para saber Mais: www.bicicletada.org


Beto Grillo é artista e produtor cultural



1 comentários:

Ras Douglas disse... [Responder comentário]

muito bom o texto Beto,
eu como ciclista e motorista percebo todas estas características mencionadas e ainda percebo que não há nenhum tipo de "incentivo" ao uso de bicicleta por parte do poder público e da sociedade. Má sinalização, imprudência por parte de carros, motos e principalmente caminhões e ônibus, falta de linhas exclusivas para bicicletas, fazem com que se "reprima" o uso de tal veículo.... tantas foram as vezes que me senti sem direitos como ciclista pois percebo a idéia: "as ruas são para os carros, as calçadas para os pedestres, e os ciclistas estão equivocados em quaisquer destes ambientes".

Só de ter uma pequena faixa exclusiva para ciclista já faria muitas pessoas pensar em usar as bicicletas, fora as políticas muito bem citadas na publicação.

Mais uma vez parabens pelo taxto!!!